quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Conflito entre índios e fazendeiros


Suspensão de liminar não acaba com conflito entre índios e fazendeiros, diz líder guarani-kaiowá

Mapa mostra localização dos municípios de Iguatemi e Naviraí, no Mato Grosso do Sul, palco de conflito entre os índios guaranis-kaiowás e fazendeiros.


Ameaçado de morte por sua atuação como um dos líderes do povo indígena guarani-kaiowá em Mato Grosso do Sul, Elizeu Lopes disse nesta quarta-feira (31) que a decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF), em São Paulo, de suspender a liminar judicial que poderia resultar na retirada de um grupo de 170 índios de uma fazenda localizada em Iguatemi (MS), não resolve o conflito que afeta várias outras comunidades indígenas sul-mato-grossenses. 

“A decisão de ontem (30) foi positiva, mas, para nós, ainda não é um bom resultado. Para nós, a justiça, os governos, estão deixando nossas comunidades abandonadas”, disse Lopes, durante audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, nesta manhã, na sede do Conselho Federal de Psicologia, em Brasília.

Segundo Lopes, após décadas esperando que o Estado demarcasse novos territórios indígenas e desse um basta ao grave conflito fundiário entre índios e produtores rurais que se estabeleceram na região ao longo do século passado, os guaranis-kaiowás de Mato Grosso do Sul decidiram ocupar e lutar pelas terras que afirmam terem pertencido aos seus antepassados.

“Estamos sofrendo há mais de 30 anos, lutando por nossos territórios, pela nossa terra, acampados a margem de estradas, sem condições de sustentar nossas famílias e ter umavida tranquila, sem atendimento médico e com nossos filhos tomando água suja e muitas vezes impedidos de estudar. Somos as maiores vítimas da violência e não aguentamos mais. Por isso, decidimos ocupar nossos territórios”, disse Lopes.

Suicídio

Segundo ele, a decisão dos índios de intensificar a ocupação de terras onde hoje estão instalados grandes produtores de soja, cana-de-açúcar e gado, boa parte deles legitimados pelo Estado, aumentaram os conflitos.

'MORREREMOS POR NOSSA TERRA', DIZEM ÍNDIOS GUARANIS-KAIOWÁS

 

"Nós vamos ficar, se os atiradores quiserem nos atacar, morreremos em suas mãos por nossa terra", declarou em entrevista à AFP Lide Solano Lopes, representante da comunidade Pyelito Kue, que reivindica suas terras ancestrais em Mato Grosso do Sul. Uma carta desta comunidade, na qual seus 170 habitantes, entre mulheres, homens e crianças, declaram que estão dispostos a uma "morte coletiva" para não abandonar suas terras ancestrais, coloca em destaque a situação dramática vivida por parte dos 45.000 guarani-kaiowá neste estado brasileiro.

“Fazendeiros continuam nos atacando com seus pistoleiros e não têm mais vergonha de dizer na frente das câmeras que vão derramar ainda mais sangue dos guaranis-kaiowás. Mesmo assim, vamos continuar lutando, ocupando nossas terras. Não tem como voltarmos atrás nesta decisão porque já aguardamos muitos anos e não queremos mais promessas nem discursos. Queremos a demarcação de nossos territórios”, disse Lopes.

Ele descartou a hipótese dos 170 membros da Comunidade Pyelito Kue, em Iguatemi, a cerca de 460 quilômetros da capital sul-matogrossense, Campo Grande, se suicidarem, caso fossem obrigados a deixar os dois hectares da fazenda que pleiteiam como sendo um território tradicional indígena.

Presidente em exercício da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, a deputada federal Erika Kokay (PT-DF) visitou áreas em conflito no final do ano passado. Na época, fazendeiros chegaram a tentar impedir a comitiva, da qual também faziam parte os deputados petistas Domingos Dutra (MA) e Padre Ton (RO) e agentes da Polícia Federal, de chegar até as áreas ocupadas por grupos indígenas.

“O nível de enfrentamento é intenso e, a nosso ver, não será resolvido sem a participação dos entes públicos, inclusive com mudanças legislativas e a eventual possibilidade de os produtores serem indenizados para deixarem a área”, disse a deputada, informando que a comissão encaminhou à presidenta Dilma Rousseff uma carta manifestando a preocupação com a situação e pedindo a adoção de medidas que ajudem a resolver os conflitos.

“As soluções e possibilidades só podem ser concretizadas se houver, por parte do governo, a decisão política de resolver o problema. Podemos dizer que há um processo de etnocídio em curso”, disse a deputada.


FOTE:UOL

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