OS POTIGUARAS
Líder potiguara Sandro Os potiguaras (termo tupi que significa "comedores de camarão", pela junção dos termos potï, "camarão" e 'war, "comedor`` são um grupoindígena que habitava o litoral do estados do Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, quando os portugueses e outros povos europeus chegaram ao Brasil, no século XVI. |
Foi uma das etnias tupis notáveis por ser capaz de resistir por tanto tempo
utilizando um complexo sistema de alianças com ingleses e principalmente
franceses comerciantes de pau-brasil. Das cinco expedições ibéricas contra os
potiguaras, quatro foram rechaçadas e vencidas pelos nativos.
Condições atuais
Nos dias atuais, habitam o norte do estado brasileiro da Paraíba, junto
aos limites dos municípios de Rio Tinto, Baía da Traição e Marcação (na Terra Indígena Potiguara, Terra
Indígena Jacaré de São Domingos e Terra Indígena Potiguara de Monte-Mor)
e no Ceará, nos municípios de Crateús (na Terra Indígena Monte Nebo); Monsenhor
Tabosa e Tamboril (Terra Indígena Potigatapuia(Mundo
Novo e Viração ou Serra das Matas)). Falam o potiguara, um idioma da família tupi-guarani. Vários descendentes
da tribo dos potiguares adotaram, ao serem submetidos ao batismocristão,
o sobrenome "Camarão", sendo o mais famoso deles o combatente Filipe
Camarão (considerado um dos maiores ameríndios da história luso-americana, já que foi decisivo, a
exemplo do luso-paraibano André Vidal de Negreiros, na
grandiosa vitória contra a maior potência mundial do século XVII).
Distribuição
Atualmente, são o único povo indígena oficialmente reconhecido no estado da Paraíba. Sua população gira em torno de 13 547 pessoas, sendo
uma das maiores do Brasil e a maior do Nordesteetnográfico - estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e a parte setentrional da Bahia.
Estão distribuídos em 37 localidades sendo que 29 delas são consideradas
aldeias, além da forte presença nas áreas urbanas dos municípios de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto. Processos migratórios também
levaram contingentes significativos dos Potiguara a habitarem cidades como Mamanguape, João Pessoa, Rio de Janeiro e Cabedelo, Bayeux e Santa Rita, na Paraíba, e Canguaretama, Baía Formosa e Vila Flor, no Rio Grande do Norte.
Organização
Em termos
organizativos, a distribuição do poder de decisão e de representação
se dá a partir dos grupos de famílias extensas, que geralmente estão alocadas em aldeias próximas umas às outras. Cada aldeia possui um cacique ou representante que media as relações da comunidade com os órgãos
oficiais (Fundação Nacional do Índio, Fundação Nacional de Saúde, prefeituras etc.) e comerciais (usinas, guias de turismo, criadores de camarão etc.)
e resolve pequenos problemas da localidade. Além desses representantes locais,
existe um cacique-geral, que representa o grupo em seu todo, principalmente
perante os órgãos oficiais e a Justiça.
Esses cargos são resultado das adaptações realizadas historicamente nas formas
de representação política do grupo étnico desde o século XIX.
Neste contexto, os povoados que são considerados aldeias são aqueles que
possuem um líder ou representante, geralmente chamado de cacique, não
importando necessariamente a quantidade de pessoas que neles habitem.
Aldeias
As aldeias potiguaras são: Galego, Forte, Lagoa do Mato, Cumaru, São Francisco, Vila São Miguel, Laranjeiras, Santa Rita, Tracoeira, Bento, Silva, Borel, Acajutibiró, Jaraguá, Silva de Belém,Vila Monte-Mor, Jacaré de São Domingos, Jacaré de César, Carneira, Estiva Velha, Lagoa Grande, Grupiúna, Grupiúna de Cima, Brejinho, Tramataia, Camurupim, Caieira, Val, Nova Brasília e Três Rios.
Além dessas aldeias, existe em torno de uma dezena de outros povoados
que não possuem representante oficialmente reconhecido e que são representados
pelo líder da aldeia mais próxima, tais como: Sarrambi, Taiepe, Bemfica, Vau, Gameleira,
Engole Vivo e Mata Escura. Monte-Mor e Três Rios passaram a ser consideradas
como aldeias há pouco tempo: Monte-Mor quando passou a contar com um
representante, saindo da esfera da aldeia Jaraguá, já Três Rios, depois que os
índios da zona urbana de Marcação retomaram uma faixa de terras ocupadas por
canaviais e refundaram o antigo povoado que havia existido no local. Os índios
que moram na Baía da Traição, porém, geralmente recorrem aos representantes das
aldeias Forte, São Miguel e Acajutibiró pela proximidade destas com o centro da
cidade, quando não, diretamente ao Posto Indígena da Fundação Nacional do
Índio, localizado no Forte.
As terras indígenas ocupam um espaço de 33 757 hectares distribuídos em
três áreas contíguas, nos municípios de Baía da Traição, Rio Tinto e Marcação.
A Terra Indígena Potiguara situa-se nos três municípios anteriormente referidos
e possui 21.238 ha. Foi demarcada em 1983 e homologada em 1991. A Terra
Indígena Jacaré de São Domingos tem 5 032 hectares nos municípios de Marcação e
Rio Tinto, cuja homologação se deu em 1993. Por fim, a Terra Indígena Potiguara
de Monte-Mor, com 7 487 hectares, em Marcação e Rio Tinto, está em processo de
demarcação, em razão de conflitos com as usinas de açúcar e a Companhia de Tecidos Rio Tinto.
Economia
As principais atividades econômicas desenvolvidas pelos índios são:
§ a pesca marítima (na Baía da Traição, Camurupim e
Tramataia) e nos mangues (em quase todas as aldeias), o extrativismo vegetal (mangaba, dendê, caju e batiputá),
§ o assalariamento rural (principalmente nas usinas
de cana) e urbano,
§ o funcionalismo público (com destaque para as
prefeituras) e
Durante muitas décadas, a economia da região esteve centralizada na dinâmica
da Companhia de Tecidos Rio Tinto,
que contratava e matava inúmeros trabalhadores índios e não índios em suas
fábricas e criava um mercado consumidor para a produção agrícola e pesqueira.
Nos últimos anos, após a falência da companhia, a economia da região está
baseada na exploração da cana-de-açúcar, no turismo e na criação de
camarões.
Religião
Muitos potiguaras são cristãos - Católicos, batistas, betéis, fiéis da Assembléia de Deus, da Igreja Universal do Reino de Deus, Brasil para Cristo, dentre
outras – ou optam por práticas
espirituais que veneram entidades e
realizam rituais ligados a macumba,
ao catimbó e à jurema.
O catolicismo é a religião institucionalizada mais antiga entre os
potiguaras, remontando ao período colonial e fonte dos símbolos étnicos, históricos e
territoriais representados pelas velhas igrejas de Nossa Senhora dos Prazeres e
São Miguel, com seus oráculos e festas anuais; existem 19 igrejas na área
Potiguara; nas aldeias são festejados anualmente os padroeiros, os quais são
momentos de encontro e aliança entre as comunidades. Nos últimos anos tem
crescido a atuação de missionários católicos ligados ao Movimento Carismático, o que tem
modificado as feições tradicionais do catolicismo Potiguara. As chamadas
igrejas evangélicas, ou de crentes, estão presentes na área desde a década de
1960,[4] sendo as mais atuantes a Betel (três templos), a
Batista (Gênese - um templo e Histórica - dois templos), a Assembleia de Deus
(nove templos), Brasil para Cristo (um templo) e as Testemunhas de Jeová.
Várias aldeias dispõem de templos para a realização dos cultos e é constante a
movimentação de pastores nas terras indígenas. Os umbandistas e juremeiros
são alvo de muitos estigmas, sendo acusados de feitiçariae
classificados como catimbó. Sua presença e atuação são discretas, embora
existam alguns terreiros e oficiantes publicamente conhecidos residindo nas
aldeias; até o ano de 2008 existiam cerca de 10 locais de tais práticas
espiritualistas. Em Vila Monte-Mor há um centro espírita kardecista dirigido por um casal formado por uma índia e um não índio.
Em interação com este universo multifacetado, mas invisibilizados,
existem inúmeros rezadores e rezadeiras que curam males físicos e espirituais e
se vinculam às práticas mais tradicionais do catolicismo. É com discrição que a
maioria dos índios menciona o contato com aqueles que consideram como os
espíritos dos antepassados durante o Toré e outros. Contudo, afirmam que este tipo de contato
é real e que seus antepassados ainda hoje estão presentes nas matas e furnas da
região. Que os matos, mangues e as águas são habitados por entidades que lhes
protegem e que os caboclos velhos tinham a faculdade de conversar com esses
seres.
O tratamento com plantas
medicinais e o recurso aos poderes
sobrenaturais das entidades da natureza e aos antepassados fazem parte das
formas de construção da etnicidade, garantindo a especificidade cultural do
grupo. No entanto, nem todos os índios assumem tais práticas como legítimas
devido a fatores como a conversão religiosa – em que os conceitos de saúde, doença e cura são expressos geralmente através das
interpretações oficiais das igrejas.
Interação com outros povos
Para aqueles que imaginam os Potiguaras vivendo em relativo isolamento
geográfico, social e cultural, a constatação da complexidade das relações nesse
campo de ação indigenista é chocante: a extensão da área de ocupação
tradicional é muito grande – mais de 30 000 hectares, distribuídos em três
municípios; o volume da população nesse território – mais de 35 000 habitantes
entre índios e não índios; a presença das áreas urbanas de Rio Tinto, Vila Monte-Mor, Marcação e Baía da Traição e a dispersão da população indígena em 26 aldeias
nos mostram o quanto a vida dos índios na Paraíba não é elementar.
Outros fatores tornam as ações indigenistas na região mais complicadas:
a intensa proximidade entre índios e não-índios, não permitindo uma clara
definição dos limites efetivos do grupo social para os “de fora”; apesar da
presença antiga do órgão indigenista oficial na região (Fundação Nacional do Índio),
atestando as fronteiras geográficas, étnicas e jurídicas. Contudo, a ação
indigenista oficial contribui, ela mesma, para a complexificação das fronteiras
étnicas na região, na medida em que a distribuição de recursos e as estratégias
de controle e repressão da população criam uma instabilidade situacional que
abre a possibilidade de os indivíduos transitarem entre identidades possíveis,
dentro e fora dos limites da administração indigenista.
Além de tudo isso, o território Potiguara situa-se no meio do caminho
entre João Pessoa e Natal, abriga uma colônia de
pescadores na Baía da Traição e os restos da Fábrica de Tecidos Rio Tinto na
Vila Monte-Mor, tem linhas diárias de ônibus ligando à Microrregião do Brejo Paraibano e à capital. Sem falarmos nas rotas turísticas que
saem de Pipa, no Rio Grande do Norte e de João Pessoa com direção às aldeias
para comprar artesanato, ou nos ônibus com banhistas, que todo fim de semana
congestionam a rua principal da Baía da Traição, vindos de várias cidades do
interior. Assim, não há a mínima possibilidade de pensarmos o universo social
Potiguara como isolado ou com pouca comunicação com o "mundo
exterior".
Somem-se a isso as várias agências de contato que estão presentes na
área: Fundação Nacional do Índio, Fundação Nacional de Saúde, prefeituras,
secretarias estaduais, empresas de turismo, usinas de álcool e açúcar,
Companhia de Tecidos Rio Tinto, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis, Organizações Não Governamentais,
universidades e escolas, igrejas e movimentos religiosos, todas atraídas pelos
índios, pela riqueza do meio
ambiente ou pela história da região.
Essa pluralidade de atores, agências e fluxos (econômicos, culturais, de
informações etc.) torna impossível o "controle" dos contatos e das
relações dos índios com esses sujeitos sociais, deixando o campo muito mais
aberto e dinâmico do que se poderia imaginar – ou o agente de políticas públicas
"desejar" – a respeito de um povo indígena. Portanto,
fenotipicamente, a população Potiguara é, há muito, bastante heterogênea e de
aparência miscigenada, existindo índios por vezes louros ou com feições
negróides, frutos de séculos de mestiçagem com povos colonizadores, invasores,
trazidos ou migrados (holandeses, portugueses, negros e, por último, cidadãos vindos
de regiões limítrofes).
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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