Para o Papa, "crescemos pensando que somos os proprietários e dominadores da terra, autorizados a saqueá-la. (...) Nos esquecemos de que nós mesmos somos terra. O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar nos permite respirar, e a sua água nos restaura e dá a vida".
Francisco deixa claro sua especial gratidão àqueles que lutam, com vigor, para resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida de povos ameaçados, a exemplo daqueles que trabalham em prol da causa indígena, pois não há como existir mudança e um futuro melhor, sem que se pense na crise do meio ambiente e no sofrimento dos excluídos, "é louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos mecanismos de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não-delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país", afirma a autoridade da Igreja Católica.
O Papa ainda menciona a importância da Amazônia, um dos principais símbolos da biodiversidade do planeta, para o futuro da humanidade, "quando essas florestas são queimadas ou derrubadas para desenvolver cultivos, em poucos anos, perdem-se inúmeras espécies, ou tais áreas transformam-se em áridos desertos. Todavia, ao falar sobre estes lugares, impõe-se um delicado equilíbrio, porque não é possível ignorar também os enormes interesses econômicos internacionais que, a pretexto de cuidar, podem atentar contra eles", afirma o Pontífice.
Ainda na Encíclica, Francisco fala da atenção indispensável que deve ser dada aos povos indígenas e às suas tradições culturais, afirmando que eles devem ser os principais interlocutores, especialmente quando são lançados grandes empreendimentos que afetam suas terras. Para o Papa, os indígenas precisam de seus espaços para interagir e manter suas identidades, sendo os melhores atores na preservação ambiental de seus territórios. No entanto, são constantemente objetos de pressões para que abandonem suas terras e as deixem livres para a instalação de projetos extrativistas e agropecuários, que não se preocupam com a degradação da natureza e da cultura.
O Papa cita que, enquanto em alguns lugares, estão se desenvolvendo cooperativas para a exploração de energias renováveis, os povos indígenas conseguem gerar "uma maior responsabilidade, um forte sentido de comunidade, uma especial capacidade de solicitude e uma criatividade mais generosa, um amor apaixonado pela própria terra, tal como se pensa naquilo que se deixa aos filhos e netos".
Por último, Francisco faz um apelo à sociedade para que, por meio de organismos não-governamentais e associações intermediárias, force os governos a desenvolver normativas, procedimentos e controles mais rigorosos, para que se possa combater os danos ambientais.
Indo de encontro com este pensamento, a Fundação Nacional do Índio tem buscado promover o papel fundamental dos povos indígenas para a manutenção da biodiversidade, atuando por meio de ações de monitoramento territorial, fiscalização, prevenção de ilícitos, gestão territorial e ambiental, conservação e recuperação ambiental, diagnósticos e levantamentos etnoambientais participativos, proteção dos conhecimentos tradicionais indígenas associados à biodiversidade, fomento à produção sustentável, entre outras.
A exemplo disso, em abril, a Funai lançou a Campanha Abril Indígena 2015, com o slogan "Um mês para homenagear aqueles que protegem o meio ambiente o ano inteiro". Várias ações institucionais, dentre elas a divulgação de um vídeo salientando a importância dos povos indígenas na preservação ambiental, causando a atenuação do aquecimento global e da crise hídrica que o Brasil atravessa. As terras indígenas, como principais áreas preservadas, são de extrema importância na regulação climática e na manutenção dos recursos hídricos brasileiros.
O que é uma Encíclica ?
A Carta Encíclica é uma circular que o Papa envia a todos os bispos do mundo católico, sobre um determinado assunto que o Papa quer ensinar. Já nos primeiros séculos da Igreja os Bispos escreviam cartas circulares aos seus irmãos no episcopado a respeito de assuntos doutrinários ou disciplinares. A primeira encíclica que se conhece foi escrita pelo Papa São Clemente (89-98) aos cristãos de Corinto, para pacificar discórdias que ali havia.
Fonte: Carta Encíclica Laudato Si', do Santo Padre Francisco, sobre o "Cuidado da Casa Comum"
*Trechos traduzidos e adaptados de forma livre da versão em espanhol da Encíclica.
Índios Potiguara da Paraíba em Foco
Via: Funai
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